25 de fev. de 2009

O que eu penso

Desde que comecei a ler alguns fóruns sobre assuntos polêmicos da ciência não consigo mais parar de ler e ter idéias, então como eu já estou gastando o meu tempo com isso, eu decidi criar esse blog para eu treinar a minha capacidade de escrever e "deixar para a posteridade".
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Vamos ao assunto. A ciência dominou as ações de governos em todos os países, mas há grupos que trabalham para que conceitos não pertencentes à ciência natural padrão também sejam reconhecidos pelos governos. Dentre eles, podemos citar as "medicinas alternativas" (acupuntura, homeopatia, etc) ou o questionamento do ensino da Teoria da Evolução por grupos religiosos, gerando polêmicas acaloradas. Refleti um pouco sobre o assunto e resolvi escrever as minhas conclusões para ver se consigo ajudar a estabelecer melhores bases de diálogo.
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A MINHA PROPOSTA
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A ciência tem um grande poder na sociedade. Poder de, por exemplo, pautar o conteúdo do ensino básico de crianças e jovens, poder de estabelecer o que é um procedimento técnico e o que é charlatanismo, etc. Esse poder foi adquirido pela imensa credibilidade de seus resultados e os benefícios à humanidade no passado, no presente e no futuro.
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As decisões científicas são estabelecidas pelas instituições científicas (organismos e sociedades científicas, universidades, órgãos públicos, etc), que com seu código de ética refoça a credibilidade da ciência (com alguns deslizes e vícios, mas no fim parece que dá tudo certo). Em uma sociedade democrática, o poder da ciência pode ser questionado por todos, grupos religiosos, ou grupos que pregam medicinas alternativas, etc, podem tentar influir na ciência, já que a ciência exerce poder sobre eles. Assim como estabelecer diretrizes para que a discussão possa ter alguma concordância?

Uma boa resposta que encontrei é o argumento institucional, onde enquanto a Instituição da Ciência tem o seu poder na sociedade devido a sua credibilidade, ela tem a primazia decisória nas questões científicas (juntamente com as demais instituições estabelecidas como o poder judiciário, legislativo, etc, dentro da competência de cada instituição). E para manter a sua credibilidade, e por consequência a sua aceitação em uma sociedade democrática, a Instituição da Ciência deve aceitar discutir com os setores da sociedade não diretamente relacionados à ciência, como os grupos religiosos, fornecendo meios e diretrizes consensuais para a atuação desses grupos nas questões científicas.

EXEMPLO PRÁTICO - Evolução x Design Inteligente

Para quem defende a ciência padrão (onde me incluo), acho que devemos ter em mente argumentos que levem em conta a democratização do debate científico, onde o que se estabelece é a vontade da maioria, porém dentro das vias institucionais de discussão. A ciência só conseguiu seu poder por ter se transformado em uma instituição de grande credibilidade com a maioria, logo deve ter os meios para que a maioria, ou seja os grupos não pertencentes à comunidade científica possam questioná-la. Assim, acho que a defesa da ciência "padrão" deva ter como foco a atividade institucional da ciência.

Explico, por exemplo, na controvérsia da reinvindicação do ensino do Design Inteligente (DI) em aulas de ciências, está bem claro que o DI não é aceito como uma teoria científica (no sentido de ser um modelo científico estabelecido, sendo apenas uma hipótese) pelas instituições científicas. Logo o DI não deve ser ensinado em aulas de ciências (talvez apenas como citação do debate científico na sociedade de teorias não estabelecidas, assim como é citado o lamarckismo). Ou seja, deixamos claro que a Instituição da Ciência não considera o DI como sendo científico.

Os motivos para que a hipótese DI não seja comparável à Teoria da Evolução (TE) é que a TE tem um amplo desdobramento e atividade para biologia teórica e prática, como no caso do estudo da mutabilidade de microorganismos patogênicos. Já o DI (até onde eu saiba) é apenas uma hipótese sem embasamento "forte", não gera atividade científica prática nem desdobramentos. Ou seja, a TE é um modelo útil a instituição científica gerando benefícios para a humanidade, já o DI nada por enquanto (por isso o DI é uma hipótese e não um modelo que gere uma gama de explicações sobre fenômenos da natureza). Ou seja, mostramos os argumentos do porque o DI não é aceito pela Instituição da Ciência (vejam que eu não entrei nos detalhes das evidências, etc).

Mas devemos estar sempre abertos aos questionamentos, não somente porque faz parte do método científico, mas principalmente porque a Instituição da Ciência só pode exercer o seu poder em uma sociedade democrática se ela permitir que os setores não científicos da sociedade também a questione. Por isso acho que a Instituição da Ciência deva tentar deixar mais claro os mecanismos pelos quais os setores não científicos possam questionar a ciência, como falo a seguir.

Para quem questiona a ciência padrão, acho que para se modificar um modelo científico ou se incluir um novo, tem se que passar pelas "vias institucionais" acima citados. Ou seja, no exemplo do caso do DI, tentar desenvolver a hipótese do DI para ver se ela possa ser aceita por um número mínimo dos cientistas que a torne respeitável.

Caso os proponentes do DI não consigam ser aceitos pela comunidade científica (ou seja a Instituição da Ciência atual) e mesmo assim quererem que o DI seja ensinada como teoria alternativa a TE em aulas de ciências, acho que vocês teriam que trabalhar para desenvolver uma "outra ciência", que produzisse resultados práticos e benéficos para a humanidade, onde o DI ganhasse credibilidade com a sociedade, e se essa credibilidade e os benefícios se equiparassem com a "ciência padrão" talvez vocês teriam força para tentar disputar o poder que a Instituição da Ciência tem na educação básica. Parece utópico, talvez (eu mesmo não acredito no DI), mas vejam que a homeopatia e a acupuntura não são aceitas pela comunidade científica, mas estão trabalhando (de uma forma ou de outra) para tentar serem aceitas.

É mais ou menos isso aí. Os comentários e malhações são bem vindos.

Gilberto de Paiva

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